Ficando em paz com as rugas (só que não)

Se você leitor apressado leu o titulo do texto e achou que vai encontrar uma maneira de ser feliz com suas linhas de expressão, pode procurar outra coisa pra fazer.

Aos que viram o “só que não”, continue com a leitura que te levarei ao mundo encantado da Dermatologia e cosmetologia, neste e em demais textos, baseados no meu dia-a-dia trabalhando com o maior órgão do corpo, mais bonito e responsável por alguns dos nossos sentidos, a pele.

Escolhi como tema para este texto falar sobre um veneno, ou melhor, uma Toxina, que em pequenas doses pode nos fazer sorrir sem rugas e, em maior quantidade, pode ajudar um paciente vitima de AVC a recuperar seus movimentos (com a ajuda dos meus colegas fisiatras e neurologistas), o BOTOX®.

Há mais ou menos 25 anos, o casal de médicos canadenses Jean (Oftalmologista) e Alastair (Dermatologista) Carruthers observaram que ao tratar Blefaroespasmo (uma espécie de contratura nos músculos das pálpebras), as rugas dos “pés de galinha” atenuavam  muito.

Por insistência dos próprios pacientes, os médicos foram convencidos a aplicar o produto na testa e os resultados se repetiram. Nascia aqui o melhor tratamento para rugas desde o Peeling de fenol.

Em 1997 – 1998, enquanto eu iniciava meus estudos em Dermatologia pela PUC-SP, fazia também Pós-Graduação na mesma área em Buenos Aires. Recebíamos um mapa de aplicação. Realmente, naquela época  não dominávamos a anatomia da musculatura facial como dominamos hoje. As linhas diminuíam, mas o rosto por vezes ganhava um aspecto congelado, confesso. 

 Hoje, muitos dos meus colegas de pós na Argentina seguiram vida acadêmica, se tornando renomados professores e speakers das industrias farmacêuticas.

Eu já segui um caminho diferente e fui clinicar, aplicando o BOTOX e observando  seus resultados, aprendendo e brincando com a musculatura da mímica facial, com músculos que contraem e relaxam – os agonistas e antagonistas.

É incrível o que aprendemos ao longo desses 20 – 25 anos; sim, houve uma grande curva de aprendizagem e hoje podemos dizer que nós, médicos brasileiros, estamos entre os maiores e melhores aplicadores de Toxina. Speakers brasileiros capacitam médicos tanto no Brasil quanto ao redor do mundo.

Mas mesmo com tanta expertise e estudo (sim, sempre a algo de novo para aprender sobre o BOTOX) cada médico tende a individualizar e ter sua própria forma de aplicação. Exemplificando melhor, as variações anatômicas e os padrões de contração muscular são muito diversos; portanto, um resultado natural é garantido com o estudo do movimento muscular de paciente para paciente.

O que se preza, claro, é uma longa duração – que no caso do BOTOX gira ao redor de cinco meses -, além de resultados naturais.

Nada como ouvir “Como você está bem, tirou férias?”, “Você parece mais jovem e descansada”, “Tirou as sobrancelhas, elas estão sofisticadas”, “Você emagreceu?”. Quando tratamos o pescoço (lifting Nefertiti), esta é a frase que queremos ouvir, pois o rosto é redefinido ao seu formato original de triângulo de base invertida.

Com o BOTOX podemos reduzir as linhas de expressão da região de olhos, entre as sobrancelhas e da testa – e esses são só os pontos básicos. Também podemos diminuir a papada, dependendo do caso, redefinir a linha da mandíbula, arquear as sobrancelhas num desenho que chamamos de “asa de gaivota”, tratar o bruxismo, o sorriso gengival, reduzir crises de enxaqueca e por ai vai.

Os pontos do terço superior da face terão uma duração média de cinco meses; já os do pescoço costumam durar mais, cerca de dez meses. Então, por questões práticas, costumo tratar o terço superior da face a cada 5/6 meses e o pescoço uma vez ao ano.

Aí você me pergunta:”E se eu fizer a aplicação só uma vez por ano, vou ficar pior?” Não, você não vai ficar pior, mas vai perder a oportunidade de produzir seu próprio colágeno e depositá-lo abaixo das linhas, enquanto a musculatura está em repouso. Os resultados, na verdade, são cumulativos; certamente você estará bem melhor daqui quatro ou cinco anos aplicando o BOTOX regulamente do que se não fizer nada!

E quanto a qualidade dos produtos aplicados? Bom, não existe milagre, né gente? Produto bom tem sem custo mais elevado e ponto. Não podemos brincar com a saúde usando produtos de precedência duvidosa e muito baratos.

E quanto ao aplicador, qual deve ser sua formação? Os aplicadores que tem competência para tal tratamento são os médicos Dermatologistas e cirurgiões plásticos. Mas aí você me fala que a esteticista e o dentista estão aplicando. Bom, que produtos estão usando? Qual foi sua formação médica? Se ocorrer alguma complicação, quem vai te socorrer? Lembre que eu coloquei no texto que estamos usando uma toxina. Se usadas por médicos habilitados você está em boas mãos. Eu não daria meu  rosto para um  profissional  não médico tratar, e você?

DRª Christiane Radaic Rocha – Dermatologista Especialista pela SBD –

 CRM 85807 – RQE 62054